100 dias |
Porque na próxima segunda-feira se cumprem cem dias do novo poder autárquico carrazedense.
Quisemos parafrasear o Manuel, poeta presidenciável, porém "o vento cala a desgraça o vento nada me diz". Na iminência da destruição de um rio, perguntou-se ao ribeiro da Veiga e ninguém vê uma corrente sonhadora, apenas o lodo das águas. Esta terra desfalece à beira de um ribeiro triste. Os rios continuam a correr para o mar e a "minha gente" permanece nas margens ou a fazer telefonemas à Edp para saber do nosso destino colectivo. Pergunta-se à gente que passa, notícias do nosso futuro, mas os seus sonhos moram muito longe e afogam as suas mágoas em breves reencontros na margem de uma curva, em bebedeiras de maduro, etc e tal. Perguntamos aos montes que nos rodeiam e deles ressoa o eco perturbador da inveja, da intriga, da maledicência e da ingratidão. Há dias apoiou-se o que hoje parece detestável. Calunia-se quem nos promoveu. Morde-se a mão que nos deu o pão. Combate-se o que ainda há pouco se defendia. Maldiz-se quem nos fez bem. Renega-se quem se adorou. Pergunta-se à brisa que passa silenciosa e ligeira por uma vila solitária e deprimida e a brisa nada nos diz. Apenas o silêncio dos cemitérios, a quietude das obras de Santa Engrácia, a apatia angustiante da desmotivação. E haverá uma candeia que alumie, alguém que semeie canções, alguém que resista, alguém que diga não...???
Texto de José Alegre Mesquita
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