Complexo Agro-industrial do Cachão transformado em “bomba ambiental”
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O Complexo Agro-industrial do Cachão transformou-se numa bomba ambiental que não pode deixar de ter uma solução por parte das autarquias e do governo. Mais de um milhar de toneladas de plásticos que se destinariam a ser reciclados, estão a arder desde fevereiro. “Um cancro ambiental no meio de uma paisagem formidável, marcada pelo vale do Tua” afirmou Pedro Soares, deputado do Bloco de Esquerda e presidente da Comissão Parlamentar de Ambiente, durante uma visita ao local no passado sábado, acompanhado por habitantes da aldeia do Cachão e dirigentes locais do Bloco.

Durante a visita, foi possível observar o fumo e o cheiro nauseabundo que persiste naquele local, a poucas centenas de metros da aldeia do Cachão, provocado por um incêndio num dos armazéns da Mirapapel, empresa que se dedica à recolha de materiais para reciclagem.

 

O último incêndio nos armazéns da Mirapapel deflagrou no recente mês de fevereiro e ainda está activo. Já em 2013 ocorreu incêndio semelhante num outro armazém e nada foi feito para resolver a fonte do problema. Nem a empresa nem os responsáveis pela Agro Industrial do Nordeste - AIN, empresa constituída pelas autarquias de Mirandela e Vila Flor que desde 1992 são responsáveis pela administração dos imóveis do antigo complexo do Cachão, tomaram medidas para a retirada dos materiais plásticos que alimentam a combustão   
“Isto é um barril de pólvora, já foram feitas perguntas à Assembleia da República, já se apresentaram moções na Assembleia Municipal, mas até hoje não há sinais de que alguma entidade se interesse pela resolução deste problema”, afirma Pedro Fonseca, um dos moradores que acompanhou a visita.

 

Há quem considere que a Mirapapel tem interesse no incêndio. Já o incêndio de 2013 ardeu durante um ano. Por trás do edifício onde o incêndio se mantém activo, há um outro armazém que está entregue à mesma empresa, onde está armazenado mais plástico.

Nestes quatro hectares de construções do antigo complexo do Cachão, que em tempos deu trabalho a mais de mil trabalhadores, com bairro social próprio com capacidade para 100 famílias e que prometia ser âncora do desenvolvimento agrário de todo o Nordeste transmontano, o que subsiste são montanhas de lixo, construções devolutas, algumas ardidas, e um matadouro que liberta para o Tua sem tratamento os seus efluentes.

O deputado bloquista considerou tratar-se de uma situação inaceitável, com impacto ambiental grave. Segundo Pedro Soares, os impactos refletem-se também na paisagem e na qualidade de vida das populações. “É uma bomba ambiental que não pode deixar de ter uma resposta do governo”, enfatizou Pedro Soares. Se a empresa se recusa a resolver a situação, o Estado deverá garantir essa intervenção e posteriormente responsabilizar os gestores da empresa.

Numa altura em qua Portugal se prepara para assinar o Acordo de Paris com metas bem definidas para reduzir emissões de CO2, num altura em que se procura promover cada vez mais a economia circular da reciclagem, não se pode aceitar uma situação como esta que se verifica no Cachão, acrescentou Pedro Soares.