Privatização das Águas de Portugal

Posição do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Bragança, entretanto censurada pela mesa deste órgão autárquico.

 

Quando Pedro Passos Coelho se apresentou em campanha eleitoral, trouxe consigo a ideia de que seria necessário alienar a participação do Estado nas empresas públicas. Como sabem o BE defende que o Estado deve defender a sua posição maioritária nos sectores estratégicos da sociedade portuguesa, tais como a energia, as comunicações e os transportes, a banca, entre outros. Desses sectores e empresas há uma que em particular nos preocupa e, a mim, me inquieta.

A privatização das águas de Portugal.

 Bem sabemos que esta privatização não estará na primeira linha do património público a alienar, mas também não temos dúvida que em breve, por exemplo, com o próximo orçamento de estado, essa intenção seja concretizada.

 


Alertados que estamos para essa intenção, e porque consideramos que a água e a sua distribuição não devem ser oferecidas à exploração e à especulação do mercado, e porque essa intenção vai além do que foi acordado com a troika, tudo faremos para impedir essa privatização, pois para além de a encarecer para os consumidores, haverá desinvestimento na sua qualidade, conservação e transporte. Ou seja, em nome da racionalização de custos e da lógica empresarial da obtenção de lucros e mais-valias, põe-se em risco a saúde dos cidadãos, que passam a pagar mais por um serviço pior.

 


Olhando para o panorama partidário nacional, facilmente percebemos as diferentes sensibilidades e perspectivas: o PSD e com ele, amarrado e a bater palmas, o CDS decretarão com a brevidade possível essa privatização; no PS percebe-se alguma indefinição e alguma dificuldade em tomar uma posição que seja consensual; registamos também a oposição do PCP, logo dos verdes também, ao referendo acerca da privatização da empresa das Águas de Portugal, a pretexto de que tal votação aceita que se possa escolher sobre tal assunto. Ora, só com a confiança ou fé numa salvífica mudança de opinião da maioria PSD e CDS se pode esperar que o parlamento impeça tal privatização, já anunciada, possibilitando que se prescindisse do instrumento referendário.

 


O Bloco de Esquerda está certo de que a direita não mudará de opinião, mas deverá ser confrontada com um debate em toda a sociedade, exigindo que a palavra seja dada a todos os eleitores, com a convicção de que esse referendo é a única via possível de oposição, que será o último instrumento legal para combater e impedir essa privatização.

 


Num ambiente europeu de austeridade, sempre aliada a uma forte autoridade, temos assistido e não por acaso, a uma re-nacionalização da água por toda a Europa – veja-se o caso italiano ainda neste Verão. Não se percebe, portanto, este impulso liberal em Portugal. Mais, olhemos para a realidade local e regional, o que ganharam os vários municípios e seus munícipes com a privatização da distribuição da água!? Pouco ou nada, dizem eles e sabemos nós. O que ganhou Bragança com a adesão aos serviços multi-municipais!? Nada ou muito pouco, dizem eles e sabemos nós. A nossa população continua a ter problemas no acesso a esse bem vital e recurso natural limitado e a Câmara Municipal e a própria ATMAD não conseguem responder às necessidades das nossas populações. Imaginem agora o que nos espera se toda a água nacional for privatizada.

 


O Bloco de Esquerda não tem dúvidas da importância desta questão, nem da dimensão do negócio fabuloso que se apresenta para os privados, e por isso iremos combater essa privatização por decreto. Defendemos que devem ser os portugueses e as portuguesas a manifestarem-se e, aí, também acreditamos que teremos uma grande maioria da população contra essa privatização. O referendo será uma mobilização social contra a austeridade e contra a autoridade.