Sim é possível salvar o Tua |
No país dos cavalheiros do PS e da EDP, o bem comum tem de ser realizado de mão dada com o mercado. Os transgressores são expostos na montra das aberrações, inferiorizados e catalogados de eco terroristas. Não podemos fazer parte da história oficial dos verdadeiros terroristas, e passar mata borrão na decisão de construir 10 barragens na bacia do Douro, para aumentar menos de 3% do potencial energético do país, negócio em troca de 1300 milhões de euros que baixaram o deficit artificialmente; mas graças a Dias Loureiro; do buraco do BPN, num ápice, herdamos 4500 milhões de dívida. Isto é contabilidade criativa debaixo das escadas. Gostaria muito que até 2015 a altiva megalomania do plano nacional de barragens com elevado potencial hidroeléctrico ou PNBEPH se desfaça na trituradora da opinião pública e faça parte da galeria dos horrores do centrão.
Apesar da barragem de silêncio do PS e da EDP, a luta no Tua, pela linha e pela preservação ambiental do vale continua. Ainda impediremos uma catadupa de desastres irreversíveis no Vale do Tua se encorparmos esta causa. Vejam o atentado do Baixo Sabor, empreendimento que ficou fora da lista do plano, possivelmente por ser um tubo de ensaio de um plano maior de António Mexia (EDP). Sócrates, benfazejo disse a este senhor no Sabor, que “agora só falta o cimento”. Devemos pois estar alerta para uma sequela no Tua, com ou sem Sócrates a asneira vai ser histórica; dentro de décadas começarão a desmontar as velhas barragens dos anos 50 e iremos beber e comer da verdade do fétido aluvião que assoreou mortalmente as velhas barragens; repescaremos da memória o Tua, exemplar único e primo do que foi o Rio Douro antes das barragens e do que poderia ter sido caso o salvassem da pena capital.
Adiante, que é necessário enumerar as principais potencialidades do Tua, absurdamente ridicularizadas pelo executivo rosa, e desprezadas pela maior parte de contemplativos autarcas, na esperança das migalhas da EDP. À cabeça está a reestruturação da linha, objectivo exequível com 25 milhões de euros; valendo a EDP 5000 mil milhões, equivale a 0.25 cêntimos de 5 euros, logo, não se pode dizer que seja oneroso! Introduzir comboios turísticos com carruagens mistas (abertas ao ar livre e fechadas com ar condicionado), em articulação com os comboios turísticos da linha do Douro. Implementar vagões especiais para o transporte de equipamento de desporto de aventura. Reaproveitamento das estações para áreas comerciais e culturais. Concepção de um projecto inter – municipal e transfronteiriço de reabertura do troço Carvalhais – Bragança e prolongamento da Linha do Tua de Bragança a Puebla de Sanábria, candidatável a fundos comunitários, para conexão ferroviária entre a futura rede transeuropeia de Alta Velocidade. Colocando Trás-os-Montes a 1 hora e 40 minutos de Madrid. Integrar o turismo ferroviário do Tua na plataforma de sucesso do turismo fluvial do Rio Douro. Candidatar a linha do Tua a património mundial. O PNBEPH violou a directiva da água da EU, fomentou um parecer negativo de Bruxelas; e graças aos mexilhões do rio em Padroselas; rechaçou-se uma das vacas sagradas do plano da cascata do Tâmega, Padroselas já era! O governo preteriu a qualidade da água, a erosão costeira, a biodiversidade, a população e a economia local. Para o PS conta pouco. Como responder aos serviços públicos essenciais e ao desenvolvimento quando o governo entra em contradição e autoriza a construção de barragens? Onde estavam os tão reivindicativos autarcas nortenhos? A prodigiosa EDP, avançou prepotente com uma medida de compensação para demonstrar que se preocupa com o património que destrói pretendendo criar um Parque Natural entre o Tua e o Sabor, sob dependência do INCB (Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade) uma aberrante e ousada manobra de greenwashing, onde talvez não faltará um concerto de Paulo Gonzo. Pensa Mexia que mostra brio empresarial dentro das regras do poluidor pagador. Mas há um facto que conhecemos e conhecemos melhor cada dia que passa, estas barragens são inúteis. A EDP ganharia mais ao reforçar a potência de equipamentos obsoletos de produção eléctrica nas actuais barragens. Mas há mais… No caso das eólicas, a filosofia é produzir e distribuir localmente, mas segundo a prática do governo, devemos exportar para Espanha energia subsidiada a 70%, para os espanhóis a beberem de graça. Neste grande negócio também a EDP ganha. E o que dizer das quinze centrais de produção de biomassa prometidas em 2005, ano de calamitosos incêndios, que possivelmente nunca passaram de febre finlandesa de Sócrates, e hoje, vemos quanto poderia ter sido feito para mitigar os incêndios e produzir energia honestamente mais verde do que a hídrica. Mas há esperança para o Tua, a última acção do MCLT (Movimento Cívico da Linha do Tua) requereu ao IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) a classificação da linha como património de interesse nacional, declaração que poderá impedir a construção da barragem. Ao aceitar o requerimento o presidente do IGESPAR demonstra um acto ousado; esperemos que a Ministra da Cultura Gabriela Canavilhas tenha a sabedoria de apoiar o Tua e não censure o presidente do IGESPAR. Mas ainda se pode recorrer a instâncias maiores como a UNESCO, já que 2 km da linha do Tua fazem parte do Douro Vinhateiro Património Mundial da Humanidade. E, não esquecendo, a realização de um referendo local, tema que só não foi para a frente em 2009 devido a três eleições. Quem melhor que os cidadãos dos municípios do vale do Tua para definir o seu futuro, do rio e da linha. É um grande atentado aos interesses do betão, mas como atentado democrático devemos promove-lo. É uma luta do Bloco de Esquerda, da esquerda socialista, que pretende saber a opinião e respeitar o voto. É notório que o desinvestimento tem despejado a região desde o cavaquismo, o caso do encerramento da linha Tua – Bragança é exemplar. Trás-os-Montes é um caso de estudo de introdução de políticas económicas agressivas desde os anos 80 do século XX, um recalcamento sistemático das potencialidades regionais e tiques “colonialistas”; onde não faltam ilustres naturais; governantes, ministros, primeiros-ministros e candidatos ao cargo valorando a demagogia e o populismo, que tratam a região como uma coutada de caça (ao voto); lugar identitário e berço de ideologias conservadoras, que empobrecem a região; impondo habilmente intimidação e medo… com algumas guloseimas políticas pelo meio. Trás-os-Montes e o Tua têm que livrar-se do recalcamento e “colonialismo”, quebrar o ciclo do interioricídio rumo ao eco-socialismo e a uma economia realmente verde sem marketing corporativo, migalhas compensatórias e pseudo parques naturais. Junta-te à causa do Tua através dos movimentos de cidadãos com espaço na internet! Artigo de opinião: Setembro de 2010 | Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o JavaScript terá de estar activado para que possa visualizar o endereço de e-mail
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