Os brilhos transmontanos
getattachment.jpgDouradas de brilho verde incandescendo estão as montanhas reanimadas após um tenebroso e sombrio Inverno, contradizendo os comuns dos mortais, alcançando os vestidos mais acolhedores quando chega a Primavera, despindo-se destes no Inverno demonstrando uma capacidade que nenhum de nos consegue ter, libertar algo quando mais se precisa dele, não dando vida a uma imensa mancha apenas para satisfação do olhar, como faz a mãe de todas as mães, a natureza.

As árvores iluminam e vestem as montanhas, e entre estas corre um rio com uma intensa corrente de água cristalina, a esconder-se por entre as rochas cada vez mais despidas da força do líquido transparente. Paralelamente a estas doces lágrimas transmontanas correndo Tua abaixo, está uma linha-férrea cheia de história, como sendo uma das mil maneiras de datar e caracterizar este povo que superou ao longo de tanto tempo que parece tão curto, todas as nebulosas que pairaram entre vales e montanhas. Todos os sacrifícios espelham bem o quão grande é a alma desta gente, que tantas histórias conta sobre o que se passa por trás destes montes muitas vezes esquecidos pela imensidão dos mortais, que vêem nos aglomerados enormes de população a fuga para alguns males, mas não o bem de todos os bens, a acalmia da natureza vibrante de diversos sons, sempre com algo a nos dizer e sempre preparada para nos ouvir.

Não nos critica, nem nos reprime, repugna ou insulta, apenas ouve tudo o que nos temos para afirmar. É a melhor ouvinte dos nossos desabafos imaturos por vezes cheios de razão, outras vezes, apenas pelo vasto role de inocência e ignorância do ser Humano degradado pelo mal que paira no ar, a inveja que nos palpita no coração, o ódio que nos consome e a raiva provocada por aqueles que nos reprimem, possivelmente os mais idênticos a nós, que vêem na destruição do bem mais precioso uma satisfação sem igual.

O bem natural também tem o poder de servir para afogar culpas de alguém que não se pode culpar, certeza se tenha da capacidade de perdão existente neste bem valoroso que nós devemos preservar e não destruir por pequenas birras, guerrilhas, malvadez ou interesses económicos.

O chão que pisamos e o ar que respiramos é bem mais importante que todos esses valores mundanos que vão e vêem.

Texto de Joní Ledo

(Deputado Municipal de Vila Flor eleito pelo BE)